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A guerra não parou as actividades do Mercado

Julieta Bila e Amélia Josina, vendedeiras no Mercado desde a independência, falam do tempo da guerra.

Durante a guerra arriscávamos a vida”.

 

 

Amélia Josina

"O negócio nunca parou no tempo da guerra".

 

 

Julieta Bila

Há 40 anos que Amélia Josina, 66 anos, vende hortícolas no Mercado do Povo. Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992, arriscava a vida para chegar as machambas em Boane ou Chókwè e trazer alface e folhas de feijão nhemba.

 

“Não tínhamos alternativa, devíamos arriscar por que queríamos ganhar a vida”, lembra. “Quem não tivesse sorte, era morto ou sequestrado”.

 

Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo, era preciso ir com escolta militar: “Já estive numa coluna militar em busca de produtos para vender, assim como num carro sem escolta, e graças a Deus não tive o azar de ser atacada”.

 

Encontramos-a sentada na sua banca a cortar folhas de feijão nhemba, muito usadas na cozinha moçambicana, enquanto aguarda pelos compradores para as suas maçãs sul-africanas, papaias, limões e alface.

 

É a única a vender as macãs no Mercado. Conta que os homens preferem comprar macãs aos vendedores da rua, e as mulheres no Mercado. Na rua, explica, os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maçãs no chão. “Aqui no Mercado é mais higiénico, por isso as mulheres nos preferem”.

 

 

 

Julieta Bila vende no Mercado do Povo desde 1977. Já está a cima de 55 anos. Não tem saudades da guerra que durou 16 anos porque se lembra das histórias de pessoas que viajavam, em grupo ou acompanhadas por coluna militar, às províncias a buscar produtos para alimentar o mercado.

 

Houve casos de viajantes mortos e outros que escaparam.Mas o negócio corria bem. As pessos tinham dinheiro, escasseavam apenas os produtos no mercado.

“Sempre vendi produtos que dificilmente se estragam, como a farinha de mandioca, o côco, amendoim” , explica.

 

Por isso, Julieta Bila nunca precisou de ir a Inhambane, para adquir a sua mercadoria. “Os produtos que  revendia e  revendo comprava noutros mercados da cidade, abastecidos por camionistas,  razão pela qual nunca tive que estar numa coluna militar”.

 

Mas conta histórias de pessoas que foram atacadas. Umas morreram, outras escaparam. Mesmo assim, o mercado era abastecido e os produtos tinham mais saída que nos tempos de hoje.

 

Bila afirma que “o espaço e o número de bancas sempre foram os mesmos, só as barracas foram aumentando com o tempo”. 

 

                                                                   Arão Nualane

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