MERCADO DO POVO
Corredor da Morte
É a primeira esquina no mercado a abrir e a última a fechar. O Mercado do Povo funciona das 7h as 17h30 mas no Corredor da Morte fica-se até as 21h. Entra-se do portão na esquina das Avenidas Karl Max e Ho Chi Minh, ao lado da Sapataria Maputo e a loja de roupas Classics.
O Corredor é local de venda de comida, refrigerantes e bebidas. Vende-se diversas marcas de bebidas desde as baratas e letais como Rhino, Tentação, El Salvador, Boss, Zed, até as mais caras, como London Dry Gin, Chivas e Grants.
Relativamente calmo nas manhãs em comparação com o resto do mercado, o ambiente intensifica-se na hora do almoço, entre as 12h e 14h, até ao anoitecer.
É uma paragem obrigatória, uma esquina para conversa. Há gente que as 7h da manhã passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho. A maioria dos clientes são adultos.
Os jornalistas, os motoristas e os técnicos de som das rádios cujas redacções estão nas imediações, como Agência de Informação de Moçambique e Rádio Moçambique, recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quicâ a busca de inspiração. Do resto é um espaço para bate papo, acerto de negócios, tomando um copo.
Abuso de álcool preocupa
London Dry Gin, Chivas e Grant são as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionários do Município de Maputo que ali entram. As bebidas baratas e letais como Tentação, Boss, Rhino e El Salvador, com um teor de 43% de álcool, são as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes do Mercado do Povo, e bebem na rua, fora das barracas.
O abuso de álcool entre os jovens é um problema em aumento em Moçambique e que preocupa o Ministério de Saúde. Em Maputo, alunos da Escola Secundária Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados de Museu e Estrela e levam as aulas.
As autoridades municipais prometeram há dez anos banir os mercados que funcionam perto das escolas, mas de até cá os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir.
Cirrose, cancro e mortes
Em 2010, no distrito de Guruè, província de Zambézia, morreram oito pessoas por coma alcoólico por competir em consumir Rhino. Em 2011, na cidade de Maputo, dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica, vítimas de intoxicação pelo consumo excessivo de Tentação.
O custo do abuso de álcool para o país é enorme, entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fígado, vítimas de violência domestica, violação ,brigas, tiros, crime e acidentes de viação. Comportamentos de risco influenciados pelo álcool incluem sexo sem proteção contra o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis.
O alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte.
António Uqueio