MERCADO DO POVO
Maputo, a cidade na varanda do tempo
Como todas as cidades Maputo se fez de invenção e mito. A cidade, de facto, é a porta por onde este país se troca com a modernidade. Esta é a varanda onde o mundo mais namora com a nação moçambicana. Por aqui viaja a moçambicanidade, onde se tece e entretece a multiculturalidade que é o nosso próprio lugar de cidadania.
por MIA COUTO
A cidade foi atravessada por tempos, por mundos. O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifícios. Está ainda presente o tempo da revolução, com suas já descobertas palavras manchando muros e paredes. O slogan esboroa-se no tempo, envelhece. Se é que não nasceu já velho.
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da história. A cidade é recente mas, como numa concha, as épocas se formam justapondo em camadas. Uma outra lógica já arrumou o espaço urbano: por raças, por classes, por civilizações. Se pretendia espelho de uma certa Europa, como se ali bem ao lado estivesse não o Índico mas o Mediterrâneo.
A cidade foi, depois, desarrumada e rearrumada. As vezes, na ingénua esperança de aceitar todos se deixar habitar em equidade. Assaltada pela ruralidade, a cidade resiste. Gerida por urgências e os sempre insuficientes fundos, a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo após os momentos mais difíceis como foram as últimas chuvadas de Fevereiro.
MIA COUTO
Palavras em Asas
A baixa de Maputo, ontem e hoje
Hoje e Avenida Karl Marx.
Fila superior: No século XIX, a futura Av. Karl Marx era uma rua de machambas fora das muralhas; nos anos ’70, e hoje.
Inferior: a serie de estatuas no centro desta praça fulcral de Maputo
conta a história de Moçambique: o colono Mouzinho de Albuquerque, uma escultura abstracta dos anos 70, estatua herói da independência Samora Machel, manufacturada em Corea do Norte em 2010.
A praça do Conselho Municipal antes e depois da independência, em 1975 e 2013. O Mercado do Povo fica atrás do Conselho.
Vistas da Avenida Karl Marx.